1 de abr. de 2009

Feliz Ano Novo

Uma janela de bom tempo aparecia no horizonte e nas previsões para o dia 1º de janeiro de 2009. Era nossa chance te tentar novamente fazer o primeiro cume na Patagônia. Com todo o conhecimento aprendido no Natal, aprontamos as mochilas, fizemos as compras, checamos de novo a previsão metereológica – a janela ainda estava lá – e partimos novamente para a montanha.

Nosso objetivo era novamente a via Brenner na Aguja Guillaumet. Dessa vez, estávamos mais preparados e com um reforço na equipe: Sblen Mantovani havia chegado para se juntar a nós nas escaladas.

1 hora e meia de caminhada até a Pedra do Fraille e toca pra cima! Os mesmos 1.000 metros de subida deveriam ser percorridos até o bivaque Piedras Negras; dessa vez com mis peso, mas sem tanta pressa. Decidimos acampar aí, uma vez que é bem mais perto da base e assim poderíamos escalar mais descansados.

O caminho é tão grande e cansativo que minha mente começa a divagar com a presença da endorfina em meu corpo. Mergulho em um estado de quase meditação, penso em mil coisas e ao mesmo tempo quase que em nada. A felicidade se faz presente: felicidade de estar indo par as montnahas com pessoas muito queridas e com boas probabilidades de cume. Mas me lembro que estamos na Patagônia e essas probabilidades podem mudar tão rápido quanto o vento constante que ali impera.

Depois de duas horas e meia de muita subida chegamos ao bivaque, onde montamos nossa barraca, fizemos comida e começamos a comemoração. Sim, era o último dia de 2008 e em poucas horas estaríamos em um ano novo! Eram 9 da noite, fiz um desenho na neve, tiramos fotos, brindamos com água do glaciar, demos um pulo de ano novo e dez e meia da noite estávamos os três dormindo dentro da barraca, cada um com suas ansiedades, medos e sonhos.



O despertador não tocou às quatro da manhã, mas o Bernardo acordou assim mesmo. Sair do conforto do saco de dormir foi muito difícil, mas era preciso, ainda tínhamos um bom caminho até a base da via.

Chegamos à base por volta das 6, já cansados, e começamos a escalada as 7 da manhã. Guiei os quatro primeiros esticões com gelo nas fissuras e a pedra muito fria. Era difícil sentir o que estava fazendo, as mãos congeladas e as incertezas dominavam meus sentimentos. Mas aí surgiu a vez do Bernardo guiar, eram as enfiadas mais difíceis da via.
Na Patagônia não é muito do que você quer guiar, mas sim do que você pode guiar em conjunto com a melhor opção para a equipe fazer cume. Nesse caso, era deixar o Bernardo guiar as enfiadas mais difíceis, muitas vezes as melhores e me contentar (e Sblen também) em ficar com as mais fáceis. Tudo em nome de agilidade e eficiência para assim aumentarmos nossa chance de cume.

O cume foi atingido as 3:30. Estávamos extasiados com as fendas perfeitas, a paisagem maravilhosa e as condições do tempo. O vento estava presente, claro, mas não ameaçava e o sol brilhava. Ainda era a metade do caminho, então não perdemos muito tempo para tirar fotos, comer e beber um pouco e começar o movimento inverso: descer e descer.


O rapel, sem vento, foi tranqüilo e chegamos de volta a barraca as 8 da noite, depois de 15 horas de escalada. O cansaço era grande, mas maior ainda era a felicidade e sensação de vitória. Vitória não sobre a montanha, mas sobre nós mesmos por termos feito o 1º cume na Patagônia no 1º dia do ano! O ano promete!

A noite, ao contrário do dia, foi de tormenta: ventos fortes e nevasca nos impediram de dormir por um bom tempo. O dia amanheceu um pouco melhor e descemos para Chalten para comemorar com a galera do CEB e Tião, meu “amuleto de sorte” e com nossos novos amigos argentinos: Seba, Marcela e Flopi. E FELIZ ANO NOVO!!!!





Equipo:
Camalots: 0.5, 3.5 e 4 (1 de cada)
0.75, 1, 2 e 3 (2 de cada)
Nuts – 1 jogo
2 cordas duplas
14 costuras

Um comentário:

  1. Minha filha adorada.
    Voce está linda nesta última foto, como sempre foi. Fico imaginando sua felicidade em chegar ao cume e fico felzi quando você está feliz, embora eu não goste de saber de voce e de seus amigos em lugares tão altos e solitários.
    Sua mãe que te adora

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